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Análise de Bad Tidings, um cenário de Call of Cthulhu



O ano é 1937. O Professor António Borges escreve uma carta a um grupo de investigadores, pedindo que o venham ver com urgência na sua residência em Vilar do Lameiro, uma pequena aldeia portuguesa na localidade de Aveiro. Não especifica o porquê da sua preocupação, mas a mesma não deixa de ser intrigante. É então que se fazem as malas e se inicia a viagem. É este o mote que dita o início de
Bad Tidings, um cenário para Call of Cthulhu, da autoria de Orlando Moreira.

Bad Tidings tem tudo aquilo que é preciso para um bom cenário de Call of Cthulhu: desde a intriga e o mistério nas entrelinhas da estranha normalidade, à lenta mas certa manifestação do Cthulhu Mythos


O cenário transborda personalidade. A pequena aldeia piscatória de Vilar do Lameiro espelha bem o momento histórico, com uma parte esquecida de Portugal em que os habitantes vivem o seu dia-a-dia, desconfiando de estranhos e submissos aos olhar atento da Polícia de Vigilância e Defesa do Estado. Vários são os desaparecimentos que têm perturbado a pacatez da vila, juntamente com estranhos ruídos à noite, tudo elementos dos quais ninguém fala porque é melhor não o fazer. E, claro, uma vez que uma estranha doença deturpa o corpo e a mente do Professor António Borges, há que encontrar conforto no simpático médico alemão que, desde a sua chegada, tem oferecido os seus serviços à população.


Do cenário passamos para as personagens. Aqui, tanto as personagens não jogáveis como as personagens jogáveis pré-feitas são acompanhadas de descrições precisas sobre a sua forma de ser e de estar, acrescentando-se sugestões de como melhor as interpretar.


A nível de ritmo da história e dos cenários, o mesmo é coeso. Facilmente se percebe o que é suposto acontecer em cada uma das cenas e o que deve ser feito para recolher os seus benefícios (com exemplos concretos de lances de dados e as suas consequências). Com isto a história flui de forma mais ou menos natural, havendo sempre margem de manobra para algumas ramificações (onde constam exemplos de episódios que “fogem” à intenção da história, juntamente com pequenas dicas sobre como lidar com eles).


Interrogam-se personagens, travam-se conflitos, fazem-se perseguições, exploram-se bibliotecas e recolhem-se estranhos artefactos. Tudo enquanto uma tempestade se forma e o mar se agita, como lembretes naturais de que algo está para vir.


Não faltarão desafios, sejam eles naturais ou sobrenaturais, podendo os investigadores perder-se de várias maneiras, encontrando a morte ou a loucura. Contudo, independentemente do desfecho, reconhece-se o denominador comum sobre encontrar sempre alguma forma de satisfação.


Em suma, Bad Tidings é um cenário conciso que encaixa bastante bem naquilo que é espectável numa história de Call of Cthulhu. A narrativa é intrigante e apelativa, as personagens são carismáticas e as revelações são gratificantes. No meio disto tudo destaca-se ainda o cuidado em garantir que qualquer Keeper e qualquer jogador consegue pôr o cenário na mesa, independentemente do seu nível de experiência.


Trata-se de um cenário que merece estar na colecção de qualquer apaixonado por Call of Cthulhu e pode ser adquirido no DriveThruRPG.


Agora apressem-se a ir ter com o Professor António Borges a Vilar de Lameiro. Há algo de muito importante que ele vos quer contar... e o tempo urge!


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