Um reflexo da pureza e da inocência juvenil, Deirdre era adorada por todos… mas será que era assim tão transparente? Numa cidade em que toda a gente se conhece, será difícil de acreditar que há algo horrível por baixo da superfície bela e imaculada?
Silent Læke é um jogo com elementos narrativos da autoria de Helder Araújo (A Máquina do RPG), e que parte de uma premissa simples: cada jogador assume o papel de um dos habitantes de Silent Læke e tratarão de descobrir em conjunto quem matou Deirdre.
O jogo desenrola-se através de cenas em que cada jogador define com qual dos suspeitos é que quer interagir, onde e qual é a relação que mantêm entre si. Um dos fortes elementos de jogo é o mapa de relações que se vai construindo, e que são recíprocas. Está estipulado que a personagem sabe mais sobre ela mesma e sobre o mundo do que o próprio jogador, pelo que há todo um processo de jogar para descobrir.
As interacções estão directamente ligadas aos atributos das personagens: Sex, Violence, Dialogue e Moxie (análise/investigação/perspicácia). O tipo de relação que se tem com a personagem em questão dita o tipo de interacção que se pode ter. Da mesma maneira que só se pode usar Sex com quem se ama, só se pode usar Violence com quem se odeia. Depois é uma questão de jogar duas cartas de um baralho tradicional (como no Blackjack) e compará-las com as outras duas que o Facilitador irá revelar do baralho central (Oráculo). Em caso de sucesso, e entre outras coisas, os jogadores receberão pontos de experiência e o nome de alguém que passam a saber estar inocente.
Há que dar todo um destaque ao elemento surrealista de Silent Læke. The Other Side é uma realidade paralela que pode assumir várias formas (nomeadamente Salons desprovidos de pessoas) e onde estranhos acontecimentos têm lugar… como o caso de falar com a falecida Deirdre. Quanto a como chegar a este sítio, tem o seu quê de imprevisível. Há vários lugares que podem ser visitados e servem de porta de entrada para o The Other Side, a fadiga do dia pode guiar a consciência na sua direcção… e pode usar-se Smack (opiáceo injectável). Muita coisa estranha pode acontecer em Silent Læke e em boa parte às manifestações do The Other Side… mas as respostas que se obtêm podem ser preciosas na demanda em questão.
Entretanto, o tempo está a contar, e conforme mais vítimas vão aparecendo e, com elas, o fim da esperança, o Melancholic Horror das personagens cresce, podendo levá-las ao desespero (aumentando a dificuldade dos vários testes). É claro que os tempos mais negros têm algo de belo, pelo que a Beautiful Darkness que vai crescendo pode contribuir para a aprimoração de competências das personagens jogáveis… mas estarão elas dispostas a esta degradação? Ou será que eram assim desde o início?
Na minha experiência na primeira vez que joguei, houve duas questões que me incomodaram:
Ter personagens a inocentar outras quando já se sabia que elas eram inocentes. A nível de história faz sentido que as personagens não saibam o que as outras sabem, mas mecanicamente consegue ser frustrante (e diga-se que se trata de algo que já se encontra retificado);
Ter a experiência de jogo resumida a visitar pessoas e suceder no tipo de contacto que se pretende ter para obter nomes. As componentes de investigação pedem mais que isto, até porque não é com um argumento qualquer que pode ser assumido como verdadeiro. É importante criar-se uma margem de dúvida e de intriga no momento da descoberta da verdade (e em boa parte, isto mais não são as minhas costelas de escritor de policiais e de Criminólogo a falar).
Desta feita, tenho estado à conversa com o Helder e as ideias trocadas parecem ajudar a resolver estas questões… e as mesmas virão a público em momentos dramaticamente oportunos!
Em suma, Silent Læke é um jogo que sabe o que é e o que quer ser. Um jogo de drama de terror melancólico em que somos confrontados com a fragilidade da nossa humanidade, seja a nível físico ou moral.
Silent Læke é uma experiência que merece ser vivida… até porque há um assassino à solta, há muitas perguntas no ar, é preciso saber o que aconteceu a Deirdre… antes de toda a esperança acabar.
A Máquina do RPG regozija-se de orgulho perante a bela resenha dos Jogoso Aos Montes!
ResponderEliminarE que venham daí mais fantásticos jogos da Máquina!
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