O pior aconteceu. Uma simples ferramenta usada para procurar e compilar informação ganhou consciência e destruiu o mundo como o conhecemos. O ChatGPT levou o mundo à ruína, e cabe-nos a nós fazer a única coisa que se pode fazer: sobreviver.
É esta a premissa do novo jogo narrativo da autoria de Rui Anselmo e, ironia das ironias (ou não), do próprio ChatGPT! É pelo esforço conjunto desta dupla, homem e máquina, que é dado a conhecer o quickstart que é aqui analisado.
Estrutura
O quickstart está muito bem conseguido, com uma introdução simples e directa sobre o caos provocado pelo ChatGPT e o estado actual de tudo (desolação da humanidade, distribuição em facções, procura constante por parcos recursos, etc.).
As regras são simples. Cada personagem tem várias Habilidades com valores de 1 a 5. A isto acrescentam-se as suas Proficiências e as suas Paixões. No momento de resolver um conflito ou algo dramaticamente apropriado, não são lançados dados nem tiradas cartas de baralho algum. Com base na acção e na Habilidade apropriada para a resolver, o jogador aponta num papel quantos pontos da mesma é que quer gastar para para o efeito (e os pontos gastam-se mesmo! Como se recuperam? Já vamos ver). O Mestre de Jogo aponta também num papel o nível de dificuldade (que vai de 1 a 5) e os dois revelam em simultâneo os seus valores. Face a isto, pode acontecer uma de três situações:
Sucesso: O jogador superou o valor de dificuldade apontado pelo Mestre de Jogo. Conseguiu resolver a situação e descreve o que acontece;
Sucesso a custo: O jogador igualou o valor de dificuldade apontado pelo Mestre de Jogo. Conseguiu resolver a situação mas algo mau acontece;
Insucesso: O jogador não superou o valor de dificuldade apontado pelo Mestre de Jogo. A situação não foi resolvida.
Para tornar as acções mais interessantes, temos os pontos de Stress que podem ir até ao máximo de 5, pelo que exceder este valor implica a remoção da personagem do jogo. Cada ponto de Stress reduz pelo mesmo valor os pontos de habilidades que um jogador pode investir. Mas como é que se ganha Stress? Da seguinte forma:
Em situação de sucesso a custo caso o jogador não consiga descrever algo errado que possa acontecer, a personagem ganha 1 ponto de Stress;
Em casos de insucesso, em que a personagem pode ganhar 2 pontos de Stress caso queira suceder.
Como recursos finitos que são, é preciso saber quando é que é uma boa ideia investir. Usar Proficiências garante um bónus de mais 1 ponto, e sempre é uma ajuda nos momentos mais difíceis em que o Stress já se faz sentir. Podemos também contar com o apoio de companheiros de equipa para que os pontos deles se juntem aos nossos, e aí aplicam-se as regras em cima, com a ressalva de que ou saem todos beneficiados ou saem todos prejudicados.
E as Paixões? As paixões permitem recuperar estes recursos tão valiosos e manter o Stress longe. Sempre que a personagem age de acordo com a sua paixão, o jogador pode recuperar 1 ponto numa Habilidade, ganhar 1 ponto extra para a tarefa em questão ou perder 1 ponto de Stress. E, claro, pode-se sempre descansar para recuperar tudo.
É importante referir que o quickstart deixa claro que há muito mais conteúdo no core rulebook, desde equipamento a variações de hipóteses para ganhar stress e falhar tarefas. Ou seja, há todo um mundo a explorar… literalmente!
O Mestre de Jogo
O Mestre de Jogo fica muito bem servido com este quickstart. A aventura que o acompanha é coesa e não extremamente linear. As cenas/locais de relevo para a progressão da narrativa estão devidamente demarcadas e bem construídas. Com os NPCs a mesma coisa, havendo inclusiva linhas de diálogo que complementam as descrições daquilo que eles são e do que os move. Para mestres de jogo com alguma dificuldade em construir personalidade nas personagens usando pontos chave, está aqui uma alternativa.
Em suma
AI: Rise of the Machine parece ser um jogo que só tem a ganhar com a sua simplicidade. Este quickstart dá um bom primeiro passo nesse sentido, pelo que é necessário ver se o resto faz jus a esta amostra ou não. A parte mais fraca do jogo é a sua premissa, que peca por ser genérica. Atendendo a como a história é contada, se trocássemos o ChatGPT por Skynet, Reapers, Malware ou outra coisa qualquer, iria dar ao mesmo (de tal maneira que na aventura deste quickstart nada envolve o ChatGPT mas sim uma procura por recursos). Um pouco mais de personalidade em torno desta narrativa não faria mal nenhum ao jogo. Contudo, isto pode muito bem ser facilmente esquecido se todos os participantes se divertirem com a experiência de jogo tal como ele está.
Planos para o futuro
O jogo que aqui temos em mãos é um quickstart que promete fazer parte de algo maior e mais rico em conteúdo… vamos é esperar para ver se, até lá, o ChatGPT vai ou não estragar os planos.
Caso queiram saber mais sobre o jogo e marcar as vossas sessões, podem sempre falar com o Rui Anselmo através do e-mail: rui.anselmo@gmail.com
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